PROFESSOR NA PROPRIA CASA


Conforme levantamento do MEC, 4671 escolas de educação básica funcionam na casa da própria professora; essa deplorável constatação é o prolongamento de um passado remoto. A educação sempre foi tratada com descaso. Ao se criar uma Vila, cuidava-se da instalação da Câmara, do Cartório e da Cadeia. Escola, nada. Quando se criava uma Escola de Primeiras Letras cabia ao professor se encarregar de tudo. Da casa e do mobiliário. Tome-se como exemplo o caso de Pedra Branca, no interior deste Estado, que teve em 18 de Julho de 1856 criada uma Escola de Primeiras Letras para meninos.
De acordo com documentos guardados no Arquivo Público do Ceará, em 25 de Abril de 1857 o Padre João do Nascimento e Sá entrou em exercício no cargo de Professor de Primeiras Letras em Pedra Branca. Um ano após, para receber o seu ordenado, o Padre, humildemente, requeria que “precisa a bem de seu direito, e justiça, que V.Sa atteste se o suplicante tem feito Aula, desde que entrou em exercício de Professor, em uma sua Casa separada, servindo só para o mister da Escola com mesa, cadeira, bancos feitos a sua custa, e se teve utensílio algum”.
Em 26 de Abril de 1858, o Inspetor Escolar Manoel Joaquim Cavalcante disse: “Attesto que o Reverendo João do Nascimento e Sá, Professor Público interino de primeiras letras da Povoação da Pedra Branca, tem funcionado desde o dia em que entrou a exercer os deveres de seu Magistério em uma casa própria e só ocupada neste mister, tendo comprado a sua custa bancos, cadeiras, mesa, sem que lhe fornecesse utensilios alguns. He o que me cumpre attestar”.
Para obter o atestado, que lhe daria o direito de receber seus vencimentos, o Padre João Sá, o primeiro Professor de Pedra Branca e seu primeiro Vigário, ainda “pagou cento e sessenta reis de sello”, assim o funcionário da Coletoria registrou no atestado.
O Padre João Sá exerceu o sacerdócio do Magistério até maio de 1867, sucedendo a Manoel Joaquim Cavalcante no cargo de Inspetor Escolar e desempenhou as funções deste cargo durante 22 anos. Faleceu no dia 21 de Outubro de 1890 com mais de 80 anos, sendo sepultado ao pé do Altar Mor da Matriz de Pedra Branca.
CAMELOS EM QUIXERAMOBIM

O Barão de Studart registra que em 24 de julho de 1859 “chega ao porto de Fortaleza a barca franceza Splendide procedente de Argel, donde partiu a 21 de junho, conduzindo 14 dromedarios mandados vir pelo Governo Imperial com destino a esta província, acompanhados por 4 Arabes”. Parte desse lote de camelos foi destinado a Quixeramobim aos cuidados do Padre Antonio Pinto de Mendonça, pároco de Quixeramobim, Visitador da Província, Vice-Presidente da Província. Além dessas atividades, o Padre Pinto de Mendonça era grande criador de gados e arrematante do dízimo de gados grossos. É sob essa qualidade do Padre Mendonça que em 27 de abril de 1859 o Presidente da Província João Silveira de Souza profere despacho, assim iniciando: “O Presidente da Província, considerando sobre a matéria que lhe foi dirigida em 21 de fevereiro findo, pelo proprietário e criador de gados do Município de Quixeramobim, cônego Antonio Pinto de Mendonça, arrematante do dizimo de gados grossos do mesmo município em 1858, na qual consulta sobre o modo pelo qual se deve pagar o sobredito dizimo, em um ano posterior ao da arrematação, quando o respectivo arrematante não o procure cobrar naquele, se em garrotes, como arrematara, ou se em bois feitos, à vista do tempo decorrido, e se no numero integral à ferra, ou com abate correspondente a cada ano de demora”.....Credenciais portanto não faltavam ao Padre Pinto de Mendonça para contratar com o Governo da Província no sentido de criar os camelos em suas fazendas do Quixeramobim. No Arquivo Público do Estado do Ceará encontram-se três cartas do Padre Pinto de Mendonça dirigidas ao Presidente da Província sobre o assunto; em 07 de novembro de 1859 apresenta ao Presidente da Província os senhores Joaquim Felismino da Costa e Manoel Franklin de Alcântara, contratados por 20$000 mensais para aprenderem a tratar dos camelos; em 23 de novembro comunica ao Presidente ter dado ordens aos seus procuradores em Fortaleza para receberem os camelos e assinarem o contrato que deve ser firmado com o governo. Finalmente, em 02 de novembro de 1860 o Cônego Antônio Pinto de Mendonça informa ao Presidente Antônio Marcelino Nunes Gonçalves que recebeu o lote de camelos nos últimos dias de Dezembro de 1859. Até o mês de Maio estiveram bem, havendo três fêmeas parido. Do mês de Maio em diante, viram-se acometidos de terrível lepra e inchações nas articulações e, apesar dos esforços empregados, apenas um escapou e está sendo devolvido ao governo. E pede que o contrato fique sem efeito.