MEDALHA RAIMUNDO OLIVEIRA FILHO – 2010 (I)
Para ganhar tempo, saúdo os presentes na pessoa do Companheiro Meton Vasconcelos, decano dos Governadores de Rotary.
Antes de mais nada, o Rotary Clube de Fortaleza -Alagadiço quer demonstrar sua gratidão àquele que por primeira vez o presidiu há quarenta e um anos. Aqui está o professor Itamar Barreto Medeiros, fundador do Alagadiço e seu primeiro Presidente, que hoje volta a integrar-se ao Clube na condição de Sócio Honorário para fazer companhia ao Senador Lúcio Alcântara.
Senhoras e Senhores ! Quando Portugal separou-se em 1640 da Espanha, após 60 anos de união dinástica, o novo monarca, o Duque de Bragança, aclamado D. João IV, tinha 3 tarefas pela frente. A primeira, na Europa, o reconhecimento internacional do Reino e do trono, convindo frisar que nessa tentativa encontraria sérias dificuldades, destacando-se a resistência do Papado por quase trinta anos; a segunda, na Península Ibérica, a defesa das fronteiras contra o inevitável ataque do poderoso vizinho; e a terceira, no ultramar, a reivindicação das colônias que, na América, na África e na Ásia, haviam sido perdidas para os Paises Baixos. No Brasil, a Companhia das Índias Ocidentais, que representava os interesses da Holanda, havia dominado o litoral do Nordeste entre o Ceará e o rio São Francisco.
Como se sabe, o domínio holandês no Brasil se estendeu de 1630 a 1654. As negociações diplomáticas para a recuperação do Nordeste se iniciaram em 1641 e somente foram concluídas em 1669, com a definitiva compra através da entrega do sal de Setúbal e de duas províncias no Malabar, na India. Os holandeses foram duros nas negociações pois não se conformavam com a perda do açúcar do Nordeste. No decorrer das negociações, os diplomatas dos Paises Baixos apresentaram em 1848 os famosos 19 Artigos contendo suas reivindicações. O 1º artigo, que é o que nos interessa de perto, previa a “Restituição inteira de todas as fortalezas e terras que possuíam desde o Rio Real, da parte do Sul, até o Rio Grande, da parte do Norte, deixando a Capitania do Maranhão à Sua Majestade, porém que a do Ceará, se desmantelaria e ficasse deserta”.
Esta proposta foi rejeitada por D. João IV, não sem antes receber o parecer favorável do Padre Antonio Vieira, personalidade importante nas negociações. O Padre Vieira lançou acusações contra diversos Conselheiros do Rei, tachando-os de ignorantes. O Companheiro Ednilo, ex-Oficial de Marinha, há de compreender muito bem. O Padre Vieira dizia que um desses Conselheiros era de tal modo ignorante que, ouvindo que o apresamento de naus portuguesas em águas brasileiras devia-se a que os barcos holandeses sempre ganhavam o barlavento, propusera que “se mandasse fazer logo uma fortaleza nesse barlavento”, com o que escusaria de “ter aí esse valhacouto”. O certo é que graças a ignorância ou não desses Conselheiros, o Ceará não permaneceu como “terra de ninguém” como queriam os holandeses. Refutada a proposta, em 1849 os holandeses para aqui se deslocam sob o comando de Matias Beck e fundam Fortaleza. E esta “terra de ninguém”, que não tinha prata nem ouro, nem pedras preciosas, conheceu desde o principio grandes calamidades; já em 1603 seu primeiro desbravador, Pero Coelho de Sousa, foi vencido por inclemente seca; em 1607 viu o sangue de seu primeiro mártir, o Padre Francisco Pinto, jorrar na Serra da Ibiapaba. Terra desafortunada, mas que foi compensada pela heroicidade de seus filhos, habituados a lutar contra as adversidades. Resultado de caldeamento intenso de índios, europeus, árabes, judeus (cristãos novos) e ciganos. Poucos negros, é certo, pois o cearense não admitia a escravidão e por isso o Ceará recebeu o título de “Terra da Luz”, por ser a primeira Província a libertar seus escravos. Promovemos uma autêntica diáspora. Somos exportadores de cérebros. As fronteiras do Ceará se alargaram, pois o cearense tem natureza universal. Fomos conquistar o Acre, fomos ensinar o gaúcho a fazer charque; fomos os primeiros voluntários da Guerra do Paraguai; Jovita Feitosa vestiu roupas masculinas para se integrar ao contingente de voluntários, enquanto Carolina Sucupira entregou seu filho primogênito. O General Tiburcio sagrou-se herói da Guerra do Paraguai; o General Sampaio sagrou-se como Patrono da Infantaria.
Companheiro Antonio Hallage! Um cearense, Amintas de Barros, hoje nome de rua em sua querida Curitiba, saiu do Aracati para lutar na Guerra do Contestado. Foi o avô do Governador Nei Braga. Nei, como gostava de ser chamado, com seu tino político e conhecendo sua competência, lhe nomeou Diretor da companhia de eletricidade do Paraná, inicio de sua brilhante e incomparável trajetória profissional.
São milhares os cearenses que daqui saíram e não retornaram. José de Alencar, o maior romancista; Capistrano de Abreu, o maior Historiador; Clóvis Beviláqua, o autor do Código Civil. Alberto Nepomuceno, o compositor laureado; Moura Brasil, o renomado oculista; Eleazar de Carvalho, o mítico Regente da Orquestra Sinfônica de Nova Iorque; o pianista Jacques Klein. Foram fundar o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, o afamado ITA, que tem 30% de cearenses dentre seus alunos; foram dirigir a USIMINAS, foram ser Ministros de Estado e dos Tribunais Superiores. Diplomatas, sobressaindo nessa área o Embaixador Hildebrando Acioli. Fincou suas raízes em Curitiba o Cel. Tiburcio Cavalcante, Diretor da Rede Viação Paraná-Santa Catarina, e tio de Raimundo Girão, o fundador de Rotary em Fortaleza. Dois exerceram o cargo de Presidente da República. Daqui saiu Rachel de Rachel, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Daqui saíram mais de 20 bispos, mas recordarei somente Dom Lino Deodato, o 18º Bispo de São Paulo, a terra do Companheiro Antonio Hallage; criou o Santuário de Aparecida e lá morreu em uma Visita Pastoral. João Thomé de Sabóia e Silva saiu de Sobral para fundar o primeiro Rotary Clube do Brasil, situado no Rio de Janeiro, dele sendo o primeiro Presidente. Finalmente, um também não voltou : o jovem diplomata Ednildo Gomes de Soarez; em 15 de novembro de 1971, ao prestar serviços ao governo brasileiro em Santiago do Chile, foi vitima de um acidente de helicóptero e lá deixou sua vida. Poderia citar centenas que honraram esta terra além de suas fronteiras nos mais diversos campos de atividades.
Muitos foram e não voltaram. Mas dois voltaram! Raimundo Oliveira Filho voltou.
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