PADRE ACUSA PROMOTOR DE RECEBER PEITAS (II)

“Tenho sempre residido aqui, e cuidado no bem espiritual de minhas ovelhas; apenas este anno fui a Cidade da Imperariz no Rio Grande do Norte visitar minha familia, porem para fazer esta viagem, pedi e obtive do Rmo. Sr. Visitador desta Provincia uma licença por 3 mezes, da qual, depois de ter sido appresentada ao digno antecessor de V. Exa., e registrada na Thesouraria da Fazenda, só uzei 47 dias, porque parti daqui a 16 de Agosto, e recolhi-me a 27 de Setembro, tudo deste anno. A vista do quanto tenho expendido creio ter provado perante V. Exa a falsidade das arguições contra mim e o meu Coadjutor assacadas pelo ex-Promotor interino d´esta Comarca.Agora permitta-se V. Exa.que vá roubar por mais alguns instantes o precioso tempo de V. Exa. para o que peço para prestar-me séria attenção. Não cauzou-me surpresa alguma o procedimento iniquo do ex-Promotor a meu respeito, pois que desejando captar a benevolencia de V. Exa para conserval-o na Promotoria por mais tempo, não teve pejo de denunciar-me falsamente perante V. Exa., para dest´arte V. Exa. consideral-o por um empregado probo e imparcial. Estou convencido que V. Exa. já estará bem informado quem é o ex-Promotor interino desta Comarca Felix Pereira Paços Fedegoso, mesmo assim attrevo-me a dizer a V.Exa. que esse homem, que só tem de humano a forma, é um hipócrita refinado, a sua vida pública e particular o attestam : quando foi Promotor praticou cousas, para mim nunca vistas, já recebendo peitas dos criminosos que responderão ao juri, para não appelar da decisão do mesmo, e já pondo em almoeda a justiça pública.Com razão disse elle que as autoridades d´aqui são demasiadamente condescendentes, porque aqui é voz publica que elle (ex-Promotor) é criminoso na Bahia, etc. Desculpe-me V. Exa esta minha tosca narração, ficando certo de que o que levo dito não é por vingança, sim por ver que um homem corrupto, venal, e criminoso não trepida em caluniar perante V. Exa. a empregados que nenhuma nota tem no cumprimento de seus deveres’’. (APECE)
O Padre João Felipe Pereira regeu a Paróquia de Tauá, antigo São João do Príncipe, como Vigário Colado de 17 de setembro de 1848 até o dia 5 de maio de 1862, data de sua morte. Antes, exercera o cargo como Vigário Encomendado. Era pai do Engenheiro de igual nome que se notabilizou como Ministro das Relações Exteriores no governo do Presidente Floriano Peixoto.

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